26.6.07

Conhecer, provocar e produzir coisas novas”!

* Entrevista e fotos: Roberta Scheibe

A entrevista que marquei com a professora e pesquisadora da Faculdade de Artes e Comunicação da UPF, Graciela René Ormezzano, foi marcada e desmarcada. Primeiro a Graciela foi chamada para ir a Marau. Depois marcamos para um feriado e não nos damos conta. Por fim, no dia marcado, cheguei um pouco antes da minha entrevistada. Pensei que eu estava atrasada, mas relaxei quando vi a pesquisadora entrando na sua sala com uma cara de feliz. Pedi para que nossa entrevista atrasasse porque a coordenadora do curso de Jornalismo da FAC havia me chamado para que conseguíssemos resolver uma “tarefa” de um curso que nós estamos fazendo. No entanto, enquanto eu e a Sônia nos embrenhávamos em números, a professora Graciela acessou seus e-mails. De repente, do nada, escutei um “yes!!!!”. Era a Graciela. Como ela é uma argentina radicada no Brasil, o “yes” foi, na verdade, “yês”. Pedi “o que foi Graciela?”. Ela me respondeu: “Meu artigo foi selecionado para participar de ‘un’ congresso na Colômbia!”... “Meu Deus, Graciela, com tudo pago?”, “si, mas só a inscrição do curso”. Depois disso falei milhares de vezes a palavra “parabéns” enquanto ela, com os dedos das duas mãos, improvisava uma dancinha. Não sei se Argentina ou algo que o valha. Alguns minutos depois, o diretor da Faculdade de Artes e Comunicação César Augusto dos Santos chegou até a sala dela. Eu disse “César, já sabe da novidade? A Graciela vai para a Colômbia”. Do alto da personalidade do diretor, ele olhou para a Graciela, já meio rindo e disse: “Mas de novo, professora?” Eis que veio a resposta: “Como de novo? Como de novo se eu nunca fui pra Colômbia?”.

Eu tentava, em vão, concentrar-me nos números da minha tarefa. Então a Graciela levantou, foi até o telefone, e o que eu e a professora Sônia ouvimos (e começamos a rir) foi o seguinte:

- Alô?? Por favor a Fulana de Tal? Oi, Fulana, tudo bem? É a Graciela da FAC. Gostaria de saber como está o orçamento de ajuda de custo (para a passagem) que eu encaminhei para ir no congresso internacional.... ‘si’... hum... ‘no’, é que eu preciso saber se saiu, porque o meu artigo foi aprovado para um congresso na Colômbia...e eu tô indo!

Quando, enfim, conseguimos sentar num banco no meio de um gramado, com muitas árvores, num lugar lindo do Campus Central da UPF para tomarmos um café, mais um detalhe. O gol vermelho que a Graciela comprou havia chegado. Saiu ela a mil, e eu fiquei sentada esperando. “Estou muito atribulada nesta tarde”, me disse com o “sotacão” castelhano que eu adoro. “Será que é o carro Graciela?”, “’No’ sei...”... “É um de quatro portas?”... “quatro portas”... “Então vai lá que ele chegou. Mas há Graciela”. Ela saiu rindo, depois voltou, feliz, sentou no banco, cruzou as pernas. Eu reclamei do vento. Ela disse “Eu adoro o vento”. E, com os cabelos em rebeldia, concedeu esta entrevista para o blog Santa Saliência.


P – Atenção Graciela... Vamos lá! Você é uma grande pesquisadora e eu quero ser uma também (risos)... Então vou começar perguntando sobre isso. Qual a importância que você atribui à pesquisa, institucionalizada ou não, dentro do atual sistema de ensino brasileiro?

É algo que está crescendo paulatinamente. No entanto mais devagar do que deveria ser, principalmente em instituições particulares, porque as instituições públicas já possuem uma tradição em pesquisa, né? Então eu vejo assim: Não somente no ensino, considerando as Ciências da Educação, mas no geral, em qualquer profissão, a pesquisa deveria fazer parte de qualquer profissional no seu dia-a-dia. Eu não consigo entender, não somente um professor, mas um dentista, um médico, um advogado, um designer, um artista, qualquer profissional, não pode ter uma formação que desconsidere a ‘pequisa’. Por que o que é pesquisar? É sair em busca de novos conhecimentos e PRODUZIR novos conhecimentos. Como um profissional bom vai poder ter uma atuação que seja interessante, produzida, atualizada e que favoreça a sociedade como um todo sem este aspecto!?


P – Você acredita que há incentivo a quem faz ou gostaria de começar a fazer pesquisa no Brasil?

Eu acho que o incentivo é pouco. A tradição em pesquisa ainda não está consolidada no Brasil e o incentivo é ‘bastante pouco’. Porque hoje as instituições, independente delas serem particulares ou públicas, elas estão preocupadas com as questões orçamentárias. E nem sempre a pesquisa é vista como algo que dá um lucro. Porque a pesquisa PODE dar dinheiro, mas nem sempre dá. Muitas vezes ela dá um tipo de conhecimento que não é revertido em lucro, mas o que interessa a uma instituição de ensino que vai formar profissionais? Não teria que ser justamente algo que faça com que esses profissionais sejam PROFISSIONAIS PESQUISADORES enquanto estão na sua condição de acadêmicos e depois como futuros profissionais? Eu penso que sim, mas nem sempre se tem essa visão.

P – O que você considera “o melhor” e “o pior” dentro de uma carreira de pesquisador?

Eu sou uma apaixonada por conhecimento. Sou uma pessoa extremamente ‘curiôssa’, e eu vejo que toda a minha criatividade está muito voltada para descobrir coisas novas. Conhecer, provocar e produzir coisas novas que tenham alguma interferência cultural e social. Porque eu penso assim: fazer pesquisa para que fique na prateleira da biblioteca da universidade, ou na prateleira da tua casa – pior ainda! – isso não resolve! Pra mim tem que provocar alguma mudança e alguma transformação. Eu ainda sou aquela romântica que pretende fazer algo para mudar o mundo. Claro que não vou conseguir mudar o mundo! Mas o dia que eu vou morrer eu vou dizer que pelo menos fiz a minha parte! (risos) E isso me deixa tranqüila. Isso é o melhor: é a possibilidade que isso te dá de tu transformares algo e tu te transformares como pessoa, a medida que tu vais adquirindo conhecimento. E o pior, o que eu vejo de ruim na pesquisa, é o engessamento da academia. As pessoas, em alguns locais – graças a Deus eu não vivo isso aqui dentro da UPF – fazem patrulhamento ideológico. Se as pessoas não pensam de acordo com determinados medalhões, então essas pessoas são vitimadas de alguma forma. Esse tipo de segregação, de discriminação, de engessamento em algumas teorias, essa falta de amplidão de cabeça, isso que eu acho ruim. Outra coisa é a gente ter que prestar contas para muitos patrões. Aqui, por exemplo, nós somos avaliados pelos nossos colegas, que ficam fazendo um julgamento dos pesquisadores como se nós estivéssemos no limbo, cheios de status e cheios de gratificações especiais. E isso é um equívoco total e próprio de quem não tem a menor idéia do que é a pesquisa. Porque justamente nós não estamos em nenhum limbo! Nós somos os mais cobrados! Porque nós precisamos prestar contas para os nossos colegas do que nós estamos fazendo com as horas que nós ganhamos! Nós precisamos prestar contas para a vice-reitoria de pesquisa, nós somos avaliados anualmente. Para nós pertencermos ao quadro de professores pesquisadores nós precisamos ter uma produção determinada, e, além disso, nós somos avaliados pela CAPES, que também vai estar nos cobrando, para que nós estejamos com nossas produções de acordo com aquele esquema de pontuação Qualis de editoras, de eventos e de revistas. Então nós somos triplamente avaliados o tempo inteiro!

P – E cobrados!

E cobrados!! Porque assim: eu trabalho no Mestrado em Educação. E se eu não produzo, por exemplo, o que vai acontecer com meus colegas? Eu vou prejudicá-los, porque a produção deles vai ser dividida com a minha que não produzi! Então, ‘clâro’, obviamente eles vão me cobrar “e aí Graciela, o que tu estás fazendo esse ano que tu não produziste o que tu precisavas?” Então existe dentro dos mestrados um esquema de recredenciamento docente, pelo qual a gente tem que passar a cada 2, 3 anos, isso vai dependendo de cada grupo. E nesse recredenciamento eu também sou obrigada a me justificar perante os meus colegas de mestrado sobre aquilo que eu produzi, não produzi, ou deixei de produzir! Entende? E as pessoas pensam “ah, tu tens 16 horas, é mamata, está tudo numa boa!” Mas em 16 horas a gente não faz nada! E se não está com a bunda sentada aqui dentro da universidade...! Mas de repente tu estas na biblioteca, estás na tua casa lendo...

P – e não dá pra sair com um monte de livros pra tudo que é canto...

Porque tu não tens como andar carregando livros pra cima e pra baixo o tempo todo! Muitas vezes a biblioteca da instituição não possui a bibliografia que tu precisas, então a gente tem que andar com o carro cheio de livros pra cima e pra baixo. As condições de trabalho não são das melhores. Isso que é ruim: muitas cobranças de diversas instâncias, e as condições de trabalho que não são das melhores. Agora, eu acho que vale a pena pagar o preço de tudo isso. Mas pra isso tu tens que ter perfil! Tens que gostar do que tu estas fazendo! E eu sou apaixonada pelo que eu faço.

P – Quem, pra você, é um modelo de pesquisador no Brasil?

Ao longo da faculdade, quando a gente vai fazendo a graduação, a especialização, o mestrado e até o doutorado, tu vais tendo vários gurus. Eu diria que eu não tenho uma pessoa que eu poderia dizer ‘Fulano’ ou ‘Fulana’ são os meus modelos. Mas eu tive vários modelos que foram meus professores, e eu penso que de cada um deles eu tentei pegar aquilo que eu considerava bom, e que eu gostava, como professor. Ou seja, uma pessoa organizada, que quando chegasse a dar uma aula num curso de pós-graduação chegasse a ter um plano de aula, com uma bibliografia consistente, que falasse para os alunos sobre essa bibliografia, sobre o que tratava cada um desses livros, quem eram esses autores, em que paradigmas esses autores estavam situados para a gente se situar também... Entende? Isso eu aprendi com Juan José Mourinho Mosquera, que foi meu orientador no doutorado na PUC em Porto Alegre, e eu vejo como uma pessoa com uma capacidade intelectual incrível. Uma outra orientadora que eu tive no mestrado, foi a Mirian Comiotto, que foi uma pessoa com quem eu aprendi a ser afetiva com meus alunos. Eu acho que isso é importante, porque uma boa relação entre orientador e orientando é fundamental! Eu tive sorte de ter excelente relação com essas duas pessoas. Mas eu vejo que muitos amigos ou colegas do mestrado e do doutorado muitas vezes saiam chorando da sala de seus orientadores. Porque era uma situação extremamente desconfortável, e as pessoas não se entendiam, falavam linguagens diferentes, e eu aprendi com ela (Mirian) que isso é fundamental. Quando eu entrei no mestrado eu tinha interesse de pesquisar sobre outro assunto. Mas eu tinha uma professora, a Lucinda, ela estava se aposentando. Era uma senhora de 70 anos, estava sendo jubilada na PUCRS. Então eu disse “professora, eu quero pedir um conselho pra senhora, já que tem muita experiência aqui dentro. Eu trouxe um projeto de pesquisa para uma linha, mas eu gostei da professora Mirian, que é de outra linha de pesquisa; o que a senhora me aconselha: pesquisar aquilo que eu tenho mais interesse, ou mudar de linha por causa da orientação”. E ela me disse: “muda de linha por causa da orientação”! Então com esses dois exemplos, um da Mirian, que é uma pessoa que tu podes falar de igual pra igual, e com a Lucinda, que me deu esse conselho, eu acho que isso me ensinou que um pesquisador precisa não só ser um professor que tenha um grande conhecimento, mas que também não pode se esquecer de ser humano.

P- Graciela, como você veio parar na Faculdade de Artes e Comunicação da UPF?

Foi uma longa história (risos), porque eu comecei dando aula com umas disciplinas na UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, na Univates – Universidade do Vale do Taquari em Lajeado, depois eu trabalhei na UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina em Joaçaba. E quando a Cilene (Potrich) era diretora da FAC, eu estava dando aula na UNISC. Uma colega da UNISC me disse “tu sabes que em Passo Fundo estão chamando pessoas para a tua área?” E aí eu liguei. A Cilene tinha sido minha colega no mestrado da PUCRS. Aí eu disse “Cilene, me falaram que estão pedindo professor na UPF”, e ela disse “sim, mas o pessoal quer para a vaga um profissional com mestrado na área de artes, e eu não te falei nada porque o teu mestrado é na área de educação. Mas manda igual”. Aí eu mandei. Então fizeram uma reunião do colegiado do curso e tal, fizeram uma análise dos currículos e me chamaram. Eu comecei nas disciplinas de desenho, substituindo a professora Roseli (Dolesky Pretto) que estava com problemas de saúde, em agosto de 1999. E também trabalhei nos Campi, primeiro em Palmeira das Missões, depois em Lagoa Vermelha. Eu vim parar (definitivamente) aqui na FAC quando eu apresentei o projeto da pós-graduação em Arteterapia e fechou a primeira turma. Então eu decidi me mudar pra cá (Passo Fundo) justamente para coordenar este curso que já está na terceira edição.

P – E quando você decidiu sair da Argentina para vir ao Brasil?

Isso foi há 20 anos, depois de várias crises econômicas. Saí com 33 anos. Meu irmão estava casado com uma gaúcha e vivia em Porto Alegre. Era uma época de bonança para o Brasil. E na Argentina era uma crise horrível.

P- Você trabalhava como professora na Argentina?

Eu tinha acabado o meu curso. Eu estava trabalhando em outra coisa. Trabalhava com moda. Fabricava roupas naquela época. Eu não costurava, mas eu criava os modelos e lá tem oficinas que trabalham por conta. Então eu ia num lugar com os panos, e nesse lugar eles cortavam, depois eu levava pra outro e eles costuravam, mais tarde levava pra outro que fazia os botões. E eu tinha uma pessoa na minha casa que fazia uma roupa artesanal, outra menina que fazia o tingimento das roupas e outra que passava. Eu e mais uma fazíamos as vendas e as entregas. Eu cuidava mais da parte de produção. Só que comprar o tecido saia MAIS CARO que os preços que estavam nas roupas nos mercados. Para tu ver a crise e a terrível inflação que havia! Então, claro, eu não tinha como me manter, e disse “Não, chega! Não quero fabricar mais nada, só quero vender a minha cabeça agora” (risos)!


P – E daí veio pro Brasil?

Daí meu irmão tava por aqui, vivendo uma fase boa, e eu resolvi vir pra cá. Peguei minha documentação na Argentina e tive um longo processo de revalidação do diploma na UFRGS. Tive que fazer dezessete disciplinas para poder revalidar, porque lá (na Argentina) eu sou formada como “Professora de Escultura para Nível Médio e Superior”... isso não existe aqui! Tu não te formas aqui para nível superior... Certo? Tu te formas aqui na licenciatura para Fundamental e Médio. Então eu tive que fazer as disciplinas de História da Arte Brasileira, de Folclore Brasileiro, das famosas EPB1 (Estudos de Problemas Brasileiros 1) e IPB2 (Estudos de Problemas Brasileiros 2) , que eram tão importante que até caíram do currículo (risos) e tive que fazer um estágio dentro do Ensino Fundamental para poder ter a licenciatura. Fiquei dois anos estudando.

P – E você ainda volta constantemente para a Argentina?

Ah, eu volto a cada dois anos. Tem vezes que vou mais seguido, outras que passo três, quatro anos sem ir... depende da situação.


P – E logo quando você chegou no Brasil, qual foi a primeira diferença cultural que você percebeu?

A comida!


P- A comida? Por que? É pior, ou melhor, ou mais forte?

(risos)... ‘No no’, é porque tudo é diferente. Eu via essas mesas fartas, que tinham várias qualidades de comida, eu achava isso um escândalo! Como as pessoas podiam botar numa mesa cinco ou seis coisas diferentes! Porque nós (os argentinos) somos muito práticos, não tem essa de arroz, feijão, carne, salada, massa, não sei o quê e não sei o quê, que é uma comida comum do brasileiro. Pra nós não, é uma carne com batatas e só! Ou um bife à milanesa com salada, ou uma massa com uma carne e só! Não se come esse monte de coisas!

P – E hoje, morando no Brasil, você come esse “monte de coisas”?

Claaaaro né?!!! (risos) Acho ótimo! Uma das coisas que me interessa muito quando eu viajo é a gastronomia! É algo que me chama muito atenção, eu adoro ir nos mercados para ver o que as pessoas comem! (risos)


P – E é tudo muito diferente, né? Por exemplo, eu gosto muito dos filmes do Nelson Pereira dos Santos. Ele enfatiza coisas do Rio de Janeiro e da Bahia, por exemplo! Fala sobre os negros, o candomblé, o pessoal que mora nos morros cariocas, que adora samba. Isso pra mim é outro país! Eu cresci no meio dos ‘alemão’!

Mas ‘clâro’!

P – Eu me identifico mais com os argentinos do que com os baianos. É mais pertinho! (risos)

Com certeza! Mas é que eles (os baianos) dizem que vocês (gaúchos) são mais parecidos conosco (argentinos) do que com eles! (risos). Uma vez eu estava em São Paulo e um paulista me disse assim: “mas da onde que tu és que tu falas com esse sotaque?!” Eu disse “não, eu sou Argentina mas moro em Porto Alegre”! Ele disse: “ah, mas Porto Alegre não é Brasil, é aquele lance na Argentina, Uruguai, sei lá o quê”!

P – Só falta a gente falar castelhano!

Pois é. (risos) Depois outra coisa que me chamou muito a atenção é não ter um lugar onde tu possas te sentar para bater um papo. Porque nós (os argentinos) somos muito dos cafés, “ah, vamos tomar um café?”... “vamos”, e sentar numa cafeteria, ao ar livre... e eu vejo que está havendo um processo, tanto dos argentinos virem para cá como de brasileiros irem para lá, eu vejo que esse é um processo que está mudando, porque tu podes ver que os cafés, embora dentro dos shoppings, estão aumentando! Porque é uma coisa gostosíssima! Tu sentares com um amigo, tomares um café, falar bobagem... Não, aqui o costume é o bar! “Beber cerveja!” Mas nada impede de tu beberes cerveja num café! Eu não sei se tem a ver com o lugar, porque lá é muito mais frio, dificilmente tu vais beber na rua!

P – Aqui o povo gosta de ir na rua e “encher o latão” de cerveja! O que salva nossos modos é o inverno! No inverno tudo fica tão mais chique... (risos).

É uma questão de clima! O italiano é muito de cafés, o espanhol é muito de cafés e nós temos uma influência muito grande de italianos e espanhóis.

P – Como foi a sua infância na Argentina?

Eu nasci na cidade de Mar Del Prata, que é uma cidade de praia, 400 kilômetros ao sul de Buenos Aires. Quanto mais tu desce mais frio é. É uma cidade bastante fria. Eu estudei numa escola inglesa, porque minha mãe achava fundamental eu conhecer duas línguas. Até tem um ditado que diz que “argentino acha que é inglês” (risos)... argentino acha que é inglês da mesma forma que gaúcho acha que é alemão! (risos) Porque a colonização, a via férrea, assim como aqui duraram muito pouco tempo, lá o trem ficou durante muitos anos. Por mais de cem anos ficou nas mãos dos ingleses! Então por onde eles foram, entendendo a via férrea, eles foram colocando seus colonizadores. Porque os empregados que mandavam eram todos ingleses, os tipos de construções das estações ferroviárias eram inglesas e além do mais a minha bisavó era irlandesa, então eu sou descendentes de irlandeses, bascos e italianos! Eu nasci numa família de classe média, em apartamento. Mas a minha mãe tinha família no campo, então muito seguido nós íamos pra fora, na casa dos tios, é uma família muito grande. Embora eu tenha nascido em apartamento eu não fui dessas crianças que só viram uma vaca e uma galinha pela televisão! (risos) E essa escola era muito legal... Era ruim porque tinha que ir de manhã e de tarde! E nenhuma criança quer estudar em dois turnos! (risos) Porque tem muito menos tempo para brincar! Mas foi muito legal porque abria a cabeça nesse sentido! Era uma escola em que não havia religião, então eu tinha colegas que eram evangélicos, católicos, judeus, e até uma moça que era filha de um agregado da embaixada da Índia. Ele se dedicava a agricultura e morava na cidade, então mandaram ela nessa escola. Eu fiquei amiga dela! Depois que ela voltou para a Índia ficamos nos escrevendo por muito tempo, e a partir dali foi que eu me interessei pelas religiões orientais, entendes? Então me criei numa família católica, mas hoje eu não me considero mais católica. Não sou budista. Mas acho que o importante não é religião, mas sim a espiritualidade, ou seja, não desconsiderar a dimensão humana.


P - Quando a gente começou a entrevista, você disse que era uma pessoa sonhadora!

‘romântica’! (risos)

P – É. “Romântica”... Você tem um sonho que gostaria de realizar em termos de pesquisa?

Olha, eu quero fazer o pós-doutorado. Eu gostaria de fazer fora, mas não sei se vai ser possível, porque como falávamos antes, as condições de trabalho não são as melhores; então não sei se vou conseguir verba, porque não vou ir com o meu salário! Só vou ir se conseguir uma bolsa da CAPES, um apoio da instituição, enfim! Então esse é um sonho que eu tenho e vou realizar. Já tenho até o local, eu gostaria de fazer em Portugal, mas se não der vou fazer dentro do Brasil! Tudo vai depender da situação financeira! Se eu ganhar bolsa faço em Portugal, senão faço em São Paulo (risos)!

P – Você gosta de morar no Brasil ou gostaria de voltar, um dia, à Argentina?

‘No no no’... eu tô muito abrasileirada, porque eu já tenho uma vida profissional e uma vida afetiva aqui. Amigos, marido, essas coisas fazem com que você não sinta saudade, como para voltar! Além do mais eu sou uma pessoa bastante desarraigada, assim como crio raízes, e tô muito bem num lugar durante um tempo, se for preciso sair é claro que eu choro, me despedaço, abraço, faço juras de amor para todos os meus amigos (risos) mas acabo indo! Eu sou muito cigana! Essa cultura (cigana) é muito interessante. Eles dizem que “o importante é estar no caminho! As estrelas vão te guiar, elas são teu lar”, algo assim. Ou seja, sempre pra frente, sempre seguindo teus sonhos!

19.6.07

Gnomos escondem cobras e lagartos

É o fim da picada. Veja a matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo enviada pela Associated Press:

"A polícia australiana apreendeu dezenas de cobras e lagartos vivos enviados pelo correio do Reino Unido dentro de gnomos de jardim durante uma inspeção internacional de cargas.

Funcionários encontraram duas cobras e três lagartos dentro de uma caixa que continha gnomos de cerâmica durante uma inspeção em Sydney em 10 de junho.

No mesmo dia, outros funcionários encontraram mais cinco cobras e cinco lagartos dentro de um segundo pacote.

As duas caixas haviam sido enviadas do Reino Unido e declaradas como presentes.

Após serem achados, os répteis tiveram de ser sacrificados por causa das regras de quarentena do país.

É ilegal enviar répteis para a Austrália sem uma licença especial. Quem desrespeitar a lei pode pegar até dez anos de prisão e pagar uma multa de US$ 92 mil [cerca de R$ 185 mil].

Ninguém foi detido em conexão com o incidente, que ainda está sendo investigado."


Para pesquisar mais, acesse: www.folhasp.com.br

12.6.07

"Eu não sei o que você veio buscar, meu irmão”

* Reportagem e fotos: Roberta Scheibe
** Colaboração: Otávio Klein


A meta-reportagem

Numa dessas noites de inverno liguei a televisão e fui brincar com o controle remoto. Comecei a passar pelos canais, naquela minha velha e boa brincadeira de ver “o que é tosco e o que não é tosco”. Detive-me num canal em que centenas de pessoas cantavam, juntas, e choravam. Então, parei para assistir. Era o programa do famoso missionário J.R. Soares, a autoridade (terrena) máxima da Igreja Internacional da Graça de Deus, popularmente chamada de Show da Fé. No programa de TV o missionário falava de Deus, de Jesus. Contava sobre as suas pregações no Brasil e nos Estados Unidos e dizia que ele também “precisava dormir”; tamanho era o seu compromisso da pregação. Num outro dia, uma senhora doente, que não caminhava, recebeu a “cura” ao vivo pela televisão. Ao final do programa ela até caminhava rapidinho pelo palco onde J.R Soares pregava e, também, onde uma banda tocava letras como “Rios de alegria, que me fazem correr, pular...”; “Glória a Deus, Deus da vida e dos louvores”; “Quero me aproximar de ti, ó meu espírito agitar”... Enquanto cantam estas canções, o público canta, pula, bate palmas. O lugar está lotado. Então, J.R. Soares diz: “Vamos aplaudir o Senhor Jesus!”. Uma salva de palmas intermináveis ecoa pela televisão.


A cena despertou-me um esta
lo! “Preciso fazer uma reportagem sobre as novas religiões que aparecem! E a Show da Fé é uma delas!”. Meu ideal foi o seguinte: Escrever uma reportagem que tivesse o “case” da igreja Show da Fé, para falar sobre a expansão das novas religiões. Logo, no outro dia, fui até a igreja Show da Fé em Passo Fundo, localizada na Avenida Brasil rumo ao Boqueirão. No local, uma espécie de “pavilhão”, grande e bem localizado, encontra-se a sede da igreja no Planalto Médio. Fui recebida pelo Pastor Silva e, depois, pelo coordenador da Igreja Internacional da Graça de Deus de Passo Fundo, Pastor Paulo Roberto Pereira Pires. Toda a equipe recebeu-me muito bem: “Passa aqui, irmã”.... “Por aqui por gentileza, irmã”. Combinei com o Pastor Paulo que um dia desses eu iria acompanhar uma celebração da Show da Fé. O dia ficaria ao meu critério. Pois fui naquela mesma tarde. Era 23 de maio, terça-feira, 15 horas.


O local t
em capacidade para abrigar muita gente. Contei 3 filas verticais e 25 filas de cadeiras horizontais. As filas da esquerda e da direita têm 3 lugares em cada fila (ou seja, fila da esquerda: 25X3 = 75 + fila da direita: 25X3 = 75. Resultado de 150 lugares). E no centro há 6 lugares para cada uma das 25 filas (25X6 = 150). Pelos meus cálculos há 300 lugares (150 + 150 = 300 lugares). Talvez mais, caso eu tenha contado errado. Se as pessoas ficarem de pé, a lotação pode muito mais do que duplicar. O lugar tranqüilamente abarca mil pessoas em pé.

Bom, era terça-feira, e praticamente todos os lugares para sentar estavam ocupados. Entrei, esperei alguns minutos e logo depois o culto ou missa (os dois termos estão certos na visão deles) iniciou. Eu, como jornalista, observei os fatos, e os reproduzo no papel, exatamente como foi dito naquela tarde; sem a preocupação de corrigir a língua portuguesa, nem vocábulos específicos dos cristãos, nem crenças citadas pelos pastores.


A Fé

O jovem pastor Silva, que aparenta menos de 30 anos, sobe ao palco e dá início a celebração:


- Boa Tarde! Deixe que a presença de Deus venha a fortalecer a tua alma nesta tarde. Glória a Deus irmão! Eu convido a todos para colocar a mão no coração, fechar os olhos e vamos falar com Jesus!

E continua:

- Pai! entramos na tua presença nessa tarde. Estamos aqui, Deus, nesse momento, para entregar a nossa vida ao Senhor (começa música de teclado, em tom lírico)! E acima de tudo, Deus, pedindo perdão, se ‘acaso’ erramos e falhamos contigo. Se ‘acaso’, Deus, tomamos atitudes ‘a qual’ não lhe agradaram e ‘a qual’ não provém da tua palavra. Deus, estamos aqui porque queremos ser pessoas idôneas para te louvar. Queremos, ó Deus, fazer a tua vontade, e não a nossa. Porque quando fazemos a tua vontade o Senhor crê em nossa vida! (...) Então Deus vem agir na vida, e agora vai tocar em cada ser e em cada alma! Vem, ó Deus, preencher o vazio no coração de muitos que estão aqui nessa tarde te buscando. Ó Deus, aquele espaço aonde muitas vezes é preenchido através da mágoa, é preenchido através do ódio, é preenchido, até mesmo, por causa da angústia e depressão. Ô Deus, preencha totalmente a vida desta pessoa, o seu coração... e transporta nesta tarde, Senhor, o seu espírito! Ô Pai, sacia a sede desse irmão e desta irmã, porque assim como há poça ela necessita tanto da água, ela anseia pela água...assim, Deus, eu morro pelo teu espírito... ó Deus, necessitamos do teu toque... venha agora Deus, e venha derramar a tua chuva em nossa vida, em Nome do Senhor Jesus! Aleluia!

- Aleluia!


(Uma m
oça começa a tocar teclado. O Pastor Silva pronuncia, falando, a frase, e em seguida a cantora, acompanhada dos fiéis, canta a música).

A música, chamada “Faz Chover” é assim: “Assim como a corça/ anseia por água/ como terra seca/ precisa da chuva/. Meu coração/ tem sede de ti/ Rei meu/ e Deus meu/”. A música continua por, mais ou menos, uns cinco minutos. Todos ajudam a cantar. Depois, ainda sob o fundo musical da cantora com o teclado, o Pastor Silva começa a “Orar em Línguas”. A crença na “Oração em línguas” é de que se reza em língua universal, graças ao poder do “Espírito Santo”. O Pastor “ora em línguas” por mais de um minuto. Em meio a sons indescritíveis, o pastor pronuncia frases de “Vem agora! Venha louvar em nossa vida!”... “Comece a pensar no nome de Jesus, ô Senhor vem agora.... vai ter uma chuva sobrenatural!” e continua com a sua oração. “Comece a buscar a presença de Deus! Porque quando você vai buscando, quando você vai sendo tocado pelo Espírito Santo, ele vai abençoar a sua vida! Ele começa a tocar no teu casamento, na tua casa! Ele começa a operar o milagre, começa a chover o sobrenatural sobre você!” Mais orações de línguas! E ele volta a falar: “Senhor, comece a tocar na nossa vida, e você pode dizer ‘Aleluia Senhor’! ‘Louvado Seja Deus’!”. Inicia-se uma música de aleluia. “Aleluia, Santo (...) Digno tu é... Santo!”. Diga ‘Aleluia Senhor’!


(O canto continua por mais alguns minutos, até que o Pastor fala):

- Quem gostou diga ‘amém’! E vamos aplaudir Jesus!

Ecoa uma chuva de palmas. Silva continua, muitíssimo simpático:

- Amém Jesus, Amém igreja!

- Amém! – todos

- Mais uma vez boa tarde!

- Boa tarde! – todos

- Deus abençoe a todos em nome de Jesus! Amém?

- Amém.

- Dá um boa tarde bem bonito pro irmão que chegou agora. Aperte a mão dele aí, ele tá cheio da presença de Deus, irmão! Você tá com o espírito do Trino Deus: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo! Ele está hoje transformando a tua vida! Amém? Nunca diga que a sua vida não presta, que você não é nada! Porque você é a jóia rara do Senhor!

- Amém! - todos

- Você é a herança dele! Ele te olha e não te vê como qualquer coisa. Pra ele você é... eu não gosto de colocar essa palavra, mas você é o “objeto” mais precioso Dele!

- Amém!

- Amém? Eu me lembro do retiro em que eu me converti. Foi em Cruz Alta. O Pastor pediu para os jovens se alguém tinha uma nota de 50 reais. Quando alguém lhe deu, ele olhou pra nota, amassou toda aquela nota de 50 reais. Ele pegou aquela nota, botou no chão e pisou em cima! Ele esfregou na pele aquela nota e perguntou: “Quem quer essa nota”? Todo mundo respondeu “eu!”. Ele disse “por que vocês querem? Porque mesmo ela estando amassada, suja, cuspida, ela continua tendo”...

- Valor – todos.

- Assim é você. Mesmo que o Diabo tenta, tá pensando na tua vida, tá te colocando lá pro meio... aos olhos de Deus você tem valor. Não importa o que aconteça, o valor não sai! Amém?

- Amém! – todos

- Se o seu inimigo tenta acabar com você, mesmo assim você tem valor. Glória a Deus?

- Amém!

- Fala pro seu vizinho então que você tem valor! Você tem valor! Valorize-se em nome de Jesus! Amém?

- Amém!! – todos

- Vamos aplaudir Jesus bem forte!

(mais uma chuva de palmas e inicia uma música em ritmo dançante. Falam de Deus e de valor e os fiéis acompanham com palmas. “O valor que Deus me Deu...(...) o Espírito Santo se move em você”. Quando termina todos aplaudem novamente.

- Esse lugar aqui, meu irmão, é o lugar mais precioso de Passo Fundo. Eu tenho aqui Jóias, rubis, e pedras preciosas. Amém irmão?

- Amém! – todos

- Às vezes essa pedra só está um pouco enferrujada, é só assoprar, tirar a poeira. Amém?

- Amém! – Todos

- Você pode sentar no seu lugar então.

(o Pastor. Silva continua falando com os fiéis, sobre valor e amor de Deus.)

- Agora feche os olhos e curve a cabeça. Deus, e Pai, em nome de Jesus! Eu venho, Deus, em tua presença nesta tarde... e mais uma vez estamos aqui reunidos em nome de Jesus, onde a tua palavra diz que todo o joelho se dobrará e toda a língua compensará que Jesus Cristo é o Senhor! Deus, fala com a tua igreja, abençoa estas pessoas através da tua palavra, em nome do Senhor.


A fé Parte I – A palavra

Agora há a troca de Pastor. Sai Pastor Silva e entra Pastor Paulo. Sem dizer nada. Sem tirar os fiéis da concentração. Pastor Paulo começa:

- Senhor Deus e Pai. É pelo teu nome que nos reunimos aqui esta tarde, e nós queremos, ó Deus, a manifestação do teu poder. A Tua palavra diz que tudo aquilo que busca, encontra; que pede, recebe; que bate à porta, ela se abre. Meu Deus que a tua palavra dê o seu poder a cada uma das vidas aqui presentes! Nós sabemos, Pai, que o nosso socorro vem do Senhor. Está escrito! De onde virá o meu socorro pelo Senhor?! Eu não sei o que você veio buscar, meu irmão, eu não sei o que você veio buscar, minha irmã; mas neste momento abre os seus lábios e diga pra Deus! Fale qual é a sua necessidade! É importante você falar com ele! É importante você dizer para ele que você confia na palavra! Que você acredita no milagre! Que você acredita que nessa tarde sairá da casa dEle levando as bênçãos que você veio buscar. Meu Deus, eu uno a minha fé com meu povo, e desde já determinamos a vitória, determinamos a Tua bênção para a Glória do Teu Santo nome. Levantem as duas mãos para o alto! Com as mãos levantadas para o alto, diga: Senhor meu Deus!

- Senhor meu Deus – Todos

- Eu preciso...

- Eu preciso – todos

- Da tua ajuda

- Da tua ajuda – todos

- Do teu socorro

- Do teu socorro – todos

- Eis me aqui

- Eis me aqui – todos

- Para receber

- Para receber – todos

- A tua palavra

- A tua palavra – todos

- Que é a solução

- Que é a solução – todos

- Para qualquer problema

- Para qualquer problema – todos

- Diga eu creio em milagres! Eu creio...

- Eu creio – todos

- Em milagres!

- Em milagres – todos

- Diga eu creio!

- Eu creio – todos

- Na minha vitória

- Na minha vitória – todos

- Em nome de Jesus

- Em nome de Jesus – todos

- Amém? Vamos aplaudir a Jesus?

Palmas, mais uma vez.

- Povo de Deus, boa tarde!

- Boa tarde! – todos

- Mais uma vez a igreja se reúne para ouvir o recado de outro homem, mas o recado de Deus. Ninguém melhor do que Deus para conhecer você, para conhecer as lutas, as dificuldades que você está passando; e uma grande verdade, Deus não traz você na casa dele pra você passear. Não, Deus traz você com um propósito. Através da palavra mostrar a so....

- lução! –todos

- Agora cabe a você querer ou não a solução. A Bíblia diz: ‘Nosso Deus adverte: Se quiserdes e me ouvirdes, podereis melhorar’. Deus vem preparado para aqueles que buscam a Ele e o melhor. Mas muitas pessoas não estão recebendo o melhor, por quê? Porque querem seguir Deus da sua maneira. E Deus não é da sua maneira... ele é da maneira da....

- Palavra! – todos

- Por isso hoje vamos entrar na terceira e última semana... onde estamos falando de uma mensagem no coração da igreja, sobre os “Dardos Inflamados do Maligno”. “Pastor, o que são DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO?” São pensamentos que vem na nossa mente, que são pensamentos totalmente contrários a.....

- Palavra! – todos

- Pensamento de morte, pensamento de derrota, pensamento de fracasso. Deus NUNCA colocaria na tua mente pensamento de derrota, de morte, de fracasso, de miséria. Esse tipo de pensamento que surge na nossa mente, totalmente contrário a palavra, são pensamentos malignos, onde o próprio salmista diz: “Senhor, livra a minha boca, livra os meus lábios de confessar isso”. Primeiro o Diabo lança o dado, né; daqueles pensamentos contrários a Palavra. Se você abrir a tua boca e confessar esses pensamentos que vêm na tua mente, você acaba confessando a tua derrota. E quantas pessoas que já não abriram a boca para dizer “não tem jeito”, “não dá”, “eu não consigo”, “nada da certo”... assim são muitas pessoas, irmãos, que estão sendo atacados pelos DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO! Porque lhe falta a proteção! E o que pode proteger aquele que confia em Deus?

- A palavra! – todos

- Às vezes, irmãos, a pessoa usa para se proteger um guia de sete espadas no pescoço. Tem outros que usam uma fitinha no braço, tem outros que, para se proteger de todo o tipo de mal usam um santinho disso, um santinho daquilo. A Igreja tem que acordar! A proteção que nós precisamos está na...

- Palavra! – todos

- Agora, tem um alerta aqui muito grande: Se você veio aqui, nessa tarde, em busca de ajuda, se realmente você quer ver o que Deus colocou na mão dele, ou no teu casamento, na tua saúde, nos teus filhos... se você quer que Deus mude qualquer situação, arranque esses DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO, se você quer proteção da parte de Deus, há algo que você tem que fazer. O que? Abra a sua Bíblia! Tiago, capítulo 1.


Todos os participantes trazem a sua bíblia e começam a procurar. Durante a missa eles fazem várias leituras. Em meio a elas o pastor pronuncia frases côo “Leve Deus a sério”, ou ainda “O dia mau existe! (...) Dá um sorriso bem honesto e diz assim: ‘Revista-se com a armadura de Deus!’”. Ao longo da tarde, foram efetuadas leituras bíblicas de Efésios, capítulo 6 e de Provérbios, capítulo 18, que fala sobre “o poder da língua”. Agora, para encontrar a leitura de Tiago, capítulo 1, assessores da Igreja Internacional da Graça de Deus ajudam os fiéis. O pastor também ajuda:

- É quase no final, viu gente? Você vai em Apocalipse, volta em Judas (...) depois vem Pedro e Tiago. Qualquer dificuldade é só erguer a mão que alguém vai lhe auxiliar.


E ele continua.

- Se você QUER a ajuda de Deus, se você quer o socorro de Deus, se conscientize que o que muda na nossa vida não é placa, não é religião, não é o homem, não é o pastor. O que muda na nossa vida é Deus, através da...

- Palavra! – Todos.

- Dois tipos de alerta que nós vamos dar aqui hoje. E você não pode desprezar esse alerta. Primeiro: Não basta você estar dentro da Igreja. Tem muitas pessoas que estão sempre dentro da igreja, porém estão bem distantes de...

- Deus! – todos.

- Tem muitas pessoas que estão dentro da igreja e distantes de Deus! Segundo alerta: Satanás não tem medo de quem tem a Bíblia aberta em casa! Ele tem MEDO de quem coloca em prática aquilo que está na Bíblia! Ele teme, ele RESPEITA, não aquelas pessoas que tem Bíblia dentro de casa, e sim ele respeita aquele que se torna pra....

- ticante! – todos

(...)

- Agora, Deus não poderá fazer nada se a palavra que for pregada entrar num ouvido....

- E sair em outro! – todos

- O que vai mudar na sua vida, o que vai fazer o poder de Deus agir a seu favor, A MÃO DE DEUS lhe proteger dos DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO... o que vai fazer Deus operar é quando você recebe a palavra e coloca em prática. Abram, Tiago, Capítulo 1, versículo 22!

“Excede praticantes ou cumpridores da palavra!”

- Não é dentro de uma igreja que você mostra que confia em Deus. Onde nós mostramos que confiamos em Deus? Lá....

- Fora! – todos

- É lá fora que vem a tentação! É lá fora que vem os prazeres. É lá fora que o Diabo ataca você! Porque Satanás sabe: se você tiver compromisso com a palavra... se você agir sobre a palavra, o próprio Deus garante que o Anjo do Senhor acampa ao redor daquele que os teme e nos livra. Essa proteção que nós precisamos está na palavra! Não deixa a palavra entrar num ouvido e sair no outro. O que eu tenho que fazer para Deus operar no filho que está nas drogas? O que eu tenho que fazer pra Deus operar na Saúde, o que eu tenho que fazer para Deus operar no casamento? O que é preciso? Que seja praticante ou cumpridor da palavra, e não somente ouvindo.

O Pastor continua divagando, por mais muitos minutos, sobre a questão diferencial entre praticar e ouvir a palavra.

- Por que temos que agradar a Deus e não ao homem? Porque só Deus pode transformar o impossível em possível! E ele só faz isso quando temos compromisso com a palavra!

Após, o Pastor. Paulo dá exemplo de famílias que sofreram e que, agora, precisam dar a volta por cima. De gente que morreu de câncer, que sofre, pensa em coisas ruins. Mais tarde ele conta a história de um jovem que se suicidou. Mais uma vez, ele afirma que é necessário ter a PALAVRA na vida. Então, novamente o orador sugere uma leitura bíblica aos fiéis. Efésios, capítulo 6. Canta a ordem dos nomes dos evangelistas e dos demais cristãos que escreveram a Bíblia, para que as pessoas possam achar com mais facilidade. Enquanto os fiéis procuram a passagem, o Pastor descontrai o culto com brincadeiras. “Deus, fortalecei-vos! No Senhor e na força do Seu poder! Revesti-vos de toda a armadura de Deus, a Palavra”.


Após a leitura da passagem Bíblica, ele novamente enfatiza a questão da Palavra de Deus. Diz que o cristão deve se apoiar na palavra para não ficar preso aos “Dardos Inflamados do Maligno”. Segundo ele o ataque “do Diabo” vem quando as pessoas menos esperam. O Pastor dá exemplos sobre o ladrão que mata e rouba e sobre as famílias que são desfeitas. “Quantas pessoas não estão revestidas com a armadura
de Deus e o Diabo entra? (...) Ou aquela doença que teve origem numa obra de macumba, de bruxaria, de feitiçaria, ou você acha que não existe isso? E se a pessoa não está arrependida o diabo entra pra matar, pra roubar e pra destruir”.


“O dia mau é uma realidade!
O Diabo lança os Dardos dele! Não é pra assustar, é pra acabar com você!” O Pastor lê e comenta a passagem bíblica. Ele opta pela repetição: estar munido da PALAVRA DE DEUS. Sem a palavra, de acordo com ele, só há desilusões. Ele repete o que é a palavra e explica, novamente, o que são DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO.

A fé parte II – A cura

Pastor Paulo passa mais uma meia hora falando dos DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO. A leitura agora é SALMO 120. Fala sobre Davi. Na fala, o pastor diz que a família de Davi “foi uma tragédia”, porque Davi teve um irmão que estuprou a irmã e mais um que também realizou tarefas impróprias. De novo o pastor fala sobre a família, o casamento. Diz que para tudo se deve ouvir a palavra. As pessoas sublinham a Bíblia. O pastor empolga-se:

- Me livra, Senhor, que eu não abra a minha boca, e comece a pensar derrotas, fracasso e miséria!!!! Amém, irmãos?

- Amém! – todos

Mais meia hora é destinada aos DARDOS INFLAMADOS DO MALÍGNO. E, então, mais para o final da missa/culto, que leva duas horas, o líder religioso faz um momento de “cura”. Com voz forte, aos gritos:

- Eu estou exigindo, eu estou ordenando! Comece a bater em retirada! Em nome do Senhor Jesus! Saia! Coloque a mão onde você tem uma doença, e diga “saia!”, “Saia!”, levanto a minha voz contra a maldade! Eu ordeno! Em nome de Jesus! Onde tiveres um demônio escondido: Sai agora! Onde tiveres um demônio escondido: Sai agora! (repente) Onde tiveres macumba, vela escondida! Saia agora! 70 X 7 agora! Pessoa que sofre de pressão alta, pressão baixa, sai! Cai pulando pra fora! Saia da planta dos pés! Eu paraliso esta doença agora! Pula pra fora agora! Passa o poder de Deus agora! Esse casal que briga, o demônio não vai conseguir separar esse casal! Começa a queimar, senhor, paralisando pensamentos! (os intercessores da igreja, chamados de Ministros e obreiros colocam a mão na cabeça das pessoas, fazendo uma intercessão. Eles rezam, também em voz alta). Pula fora com essa enxaqueca, 70 X 7! Onde tiver um aperto no coração, nós paralisamos agora! Em nome de Deus! Eu ordeno: saia! SAIA! S-A-I-A!!!!!!!!!!!

Após esse procedimento do pastor, alguns fiéis dão depoimento afirmando a cura. Mulheres, homens, jovens e velhos falam no microfone. Algumas pessoas choram e se dizem curadas pelo pastor e, obviamente, por Deus. Contam seus problemas, falam de suas vidas. E confirmam que, depois das orações do pastor, elas estão curadas. Uma dessas pessoas disse “Graças a Deus, estou sem nenhuma dor”, e as demais a aplaudiram.

A fé parte III – o dízimo

Após todos os depoimentos, o pastor pede a ajuda financeira dos presentes. Os obreiros e ministros passam munidas de bandejas com livros, óleos, revistas, jornais, CDs. O Pastor pede colaboração para fazer a pregação na cidade de Getúlio Vargas. E reitera, sempre, que a colaboração é espontânea: “Quem tem, quem não tem, quem pode, quem não pode! Levanta a mão (com o dinheiro) que eu vou abençoar”. Após o canto final, o pastor se despede com carinho e simpatia dos fiéis (ele brinca muito com as pessoas. É muito querido por quem freqüenta a igreja). Fiéis colaboradores da igreja dão recados de encontros e retiros. Até brincadeiras são feitas (de jovens da igreja que se encontram e se apaixonam).

Por fim, termina o culto. Enquanto quase 300 pessoas saem do templo, faltando pouco para a lotação das cadeiras numa tarde de terça-feira, uma mesa com pastéis para a venda está posta na saída da igreja.

A igreja Show da Fé
O caso da Igreja Internacional da Graça de Deus é digno de estudo. Segundo o pastor Paulo Roberto Pereira Pires, de 38 anos, coordenador da igreja em Passo Fundo, a igreja, que tem origem neo-pentecostal (como você verá abaixo) existe no Brasil desde 1984, fundada pelo homem a que todos chamam de “missionário” J.R. Soares. Para se ter uma idéia, a igreja, chamada de “Show da Fé” tem um site na Internet, que pode ser acessado pelo endereço http://www.ongrace.com/showdafe/. No site, o leitor encontra o conteúdo em cinco idiomas: português, espanhol, inglês, francês e chinês. O site é, na verdade, um portal, que leva ao site do próprio missionário, tem link para patrocinadores, para contatos (J.R.Soares responde a dúvidas e aos problemas dos internautas) e também tem links de agenda, eventos e lista de artistas. Ao longo do site existem vários espaços de opções para rever os programas apresentados na TV, como “O poder da intercessão” e “Você vencerá quando ouvir a voz de Deus”.

De acordo com o Pastor Paulo, a igreja, fundada em 84, se disseminou para todo o Brasil e até no exterior. “Hoje nós estamos alcançando o exterior no Uruguai, México, e Estados Unidos”. Ao todo, segundo Pires, “são sete países”. Em conversa com o pastor, realizada logo após o culto, no escritório do mesmo, em uma divisória atrás do altar, o pastor diz que a regra da igreja é ter “Jesus como base pra tudo. A igreja evangélica tem por base somente a palavra. Tem o objetivo de propagar o evangelho que significa A BOA NOTÍCIA. O que importa é que todas as religiões possam levar Jesus”.

Para com Paulo Roberto Pereira Pires, as novas religiões, como a Show da Fé crescem em razão da insatisfação das pessoas. “Eu acho que as pessoas vêm pela insatisfação. Elas estão insatisfeitas com a maneira de viver. Elas querem encontrar, dentro de uma igreja, algo que venha a suprir a necessidade delas”. Ele destaca que na igreja os pastores não estudam para se transformarem em líderes, ao contrário, “nós, pastores da Igreja Internacional da Graça de Deus somos chamados por Deus, é o próprio dom, com quase nada de formação teológica... mas o segredo de tudo é a oração e a consagração. É a oração e jejum que nos mantêm”, reitera.

O pastor Paulo faz questão de dizer que o espaço físico ocupado pela igreja é alugado. “No Rio Grande do Sul são 200 igrejas. No Brasil são mais de 2 mil e os lugares são alugados. São mantidos única e exclusivamente pela ajuda das pessoas”. Ele diz que nesse tópico é importante ser bem detalhista: “A bíblia fala sobre dízimo e oferta, e quem pratica o dízimo e a oferta está obedecendo a Deus. Nós pregamos que a pessoa não tem que pagar pra obedecer alguma cura, não tem que pagar pra receber a bênção. Mas é importante obedecer a palavra, e é isso o que sustenta tanto o programa de tv, quanto de rádio, quanto o aluguel”, afirma.

Para ele ser pastor não é uma profissão. “O trabalho de pastor é um chamado ministerial. Não temos salário, temos ajuda de custo. (...) Fico imaginando o que seria da minha vida. Eu prefeira a morte do que deixar de fazer o que eu estou fazendo. A minha realização é pregar o evangelho. É muito bom ver as pessoas encontrando Jesus”, diz.

Quando estive no culto, vi aproximadamente sete pessoas trabalhando na igreja. De acordo com a Ministra Jane dos Santos Sommer Mello, de 36 anos, há uma hierarquia na igreja. Segundo ela se inicia como colaborador, que é um trabalho voluntário. Depois se pode passar para Obreiro, ministro, auxiliar de Pastor e, por fim, se transformar em pastor. A equipe trabalha com roupa preta e com um lenço (uma espécie de gravata). O ministro, auxiliar de pastor e pastor são remunerados para trabalhar, ou melhor, eles têm uma “ajuda de custo”. De acordo com a ministra, “tudo depende do chamado de Deus”.

Para Luis Sérgio Freitas, de 42 anos, da cidade de Itajaí-SC, praticante da Show da Fé há 3 meses, a igreja recebe bem seus fiéis: “Eu me sinto bem aqui! Eu era católico, fui até batizado. Me viciei em drogas por muitos anos. Queria sair do vício e nunca consegui ajuda na igreja Católica. Entrei na igreja evangélica e me curei”, conta. Outra fiel, Márcia da Luz, de 42 anos, de Passo Fundo conta que saiu da igreja católica e hoje está realizada na show da fé. “Recebi muitas bênçãos aqui! Já fui até batizada aqui”, diz.


Os outros lados da fé
A cada dia novas religiões e seitas se expandem. Mas por que isso acontece?

Primeiro é necessário definir o que é religião e o que é seita. A palavra “religião”, e todo o contexto que está inerente a ela, refere-se a um conjunto de crenças voltadas àquilo que a humanidade acredita ser sobrenatural, sagrado ou divino. Além de abarcar também o conjunto de rituais e códigos morais derivados das crenças. Já a expressão “Seita” é destinada aos grupos que se desprenderam de igrejas tradicionais e que trabalham de modo independente. São movimentos religiosos livres ou autônomos.

Para o professor da Universidade de Passo Fundo, Otavio José Klein, filósofo e teólogo com mestrado em Ciências da Religião e Comunicação Social, são muitos os fatores que contribuem para explicar as razões do surgimento de tantas novas religiões.

Veja os fatores:

Primeiro lugar:

“Em primeiro lugar, como as religiões e as igrejas atuam no campo simbólico e existe um mercado simbólico na sociedade, elas contemplam uma necessidade do ser humano e participam do mercado na disputa pelo simbólico”.

Segundo lugar:

“... porque estamos diante de uma visão de mundo e de ser humano, onde predomina a subjetividade, a liberdade e o individualismo na busca de solução dos problemas existenciais. Isso facilita o surgimento de ‘novas ofertas religiosas’ que respondem a esses anseios, sem a necessidade do compromisso com uma comunidade religiosa e com os outros que participam dos mesmos ritos religiosos. Em outras palavras, trata-se do religioso sem compromisso”.

Terceiro lugar:

“... as novas ofertas religiosas se resumem a um discurso ritual, sem um envolvimento sócio-comunitário. Trata-se de uma religião individual que pode mudar ao sabor das ofertas e da solução das questões existentes”.

Quarto lugar:

“... porque o povo de um modo geral, passa por muitas dificuldades em diferentes setores de sua vida: saúde, trabalho, moradia... porque sempre foram excluídos social e economicamente e também porque os serviços públicos não funcionam bem. As novas ofertas religiosas prometem operar milagres e resolver esses problemas”.


O professor Otavio José Klein diz que também é necessário compreender que há uma migração religiosa muito grande. Segundo ele, há as igrejas tradicionais (católica, luterana, metodista, batista, presbiteriana, afro-brasileiras e indígenas) e as pentecostais que surgiram, no Brasil, a partir de 1908 (Assembléia de Deus, Congregação Cristã do Brasil) e as e neo-pentecostais, que iniciaram partir de 1950 (como a igreja Deus é Amor, Brasil Para Cristo, Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus). Para o professor, essa migração acontece das igrejas tradicionais “para as novas ofertas religiosas, mas também acontece, e muito, nos últimos tempos, entre as diferentes alternativas novas que estão sendo oferecidas”. Para o professor, o público que migra, entre as diferentes ofertas religiosas, possui características de não “comprometimento com uma comunidade religiosa tradicional, sendo ‘não praticante’, o que facilmente contribui para acentuar a itinerância religiosa entre diferentes denominações religiosas”, afirma.


Outro elemento que de acordo com Klein contribui para a compreensão do fenômeno religioso atual é “a linha teológica predominante nestes novos grupos. Trata-se de uma vertente teológica cristã que se fundamenta e acentua os dons do Espírito Santo e da Palavra de Deus escrita (fundamentalismo), sem levar em conta as outras dimensões do cristianismo. Essa vertente possibilita uma visão religiosa de descomprometimento, na medida em que destaca a ação do Espírito Santo ou da Palavra na solução dos problemas e exime a participação do fiel. O que o fiel precisa fazer é se submeter à igreja e pagar o dízimo (obrigações)”, enfatiza. O professor chama a atenção para a constante divisão desses grupos religiosos citados acima. “Aquilo que no início do século XX foram dois grupos em Belém do Pará (Assembléia de Deus e Congregação Cristã do Brasil), se dividiram em várias centenas de denominações, entre as quais não há acentuada diferença, mas não há também, uma articulação entre aqueles que podem ser denominados de pentecostais ou neo-pentecostais”, explica o mestre em Ciências da Religião e Comunicação Social, Otavio José Klein.

Esta reportagem também ouviu, aleatoriamente, líderes de igrejas tradicionais em Passo Fundo. Para Ivanir Antônio Ranpon, de 32 anos, padre da paróquia São Judas Tadeu de Passo Fundo, que também é graduado em Filosofia e Teologia e Mestre em Teologia, com especialidade em espiritualidade, além de professor do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo, diz que primeiramente é fundamental fazer a distinção entre religião e igreja. Para ele “igreja é uma comunidade restrita, com pessoas que se encontram”. Ele diz que são muitas as causas das novas religiões. Uma delas são as “buscas das pessoas, que procuram na religião algo que faz bem”; segundo ele isso pode ser “psíquico ou somático (como as curas). As pessoas vão atrás de propostas (boas ou não). Se isso é atingido ele permanece. Se não é atendido, a pessoa sai”, afirma.


Nesta mesma linha de pensamento sobre as novas religiões, o pastor da igreja Batista de Passo Fundo, Ceomir Buzzatto, de 63 anos, diz que “só há uma religião certa e correta: religar com Deus. Cristo Jesus é o mediador entre Deus e Homem”, enfatiza. O pastor diz que as “seitas não têm validade Bíblica” e argumenta que há um crescimento no Brasil daqueles que organizam a própria igreja. “Uma coisa é uma igreja, outra coisa é uma arapuca. Claro que é uma palavra forte. Alguns têm motivação correta, outros não. É querer ser líder a qualquer custo”, opina o pastor Buzzato.

Para o presidente da Sociedade Espírita Allan Kardec de Passo Fundo, Gilberto Albuquerque da Luz, de 43 anos, os espíritas “acreditam na liberdade da crença e na reencarnação. É a oportunidade de chegar a perfeição e ser feliz”. Mas, no que se refere as novas religiões e seitas, ele diz que não se deve “sair por aí criando religiões. Mas cada um tem uma maneira e um modo para entender e explicar o que lê na Bíblia”.

Já o reverendo Günter Martinho Pfluck, Pastor da IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil de Passo Fundo afirma ser polêmico o assunto das seitas e das religiões. “Muitos optam em não se envolver. Outros tentam defender a diversidade afirmando fazer parte da harmonia necessária ao bem viver. O ser humano é imediatista e facilmente se esquece da história. Desde o princípio, o ser humano que fora criado perfeito se desviou, busca pelo divino, pelo imanente. Cria o seu próprio panteão de divindades geralmente guiado por seus princípios de compreensão do universo”. Pfluck afirma que se criam muitas “‘verdades’ que se colocadas sob o crivo meramente racionalista da observância caem por terra. Seitas esotéricas são criadas na mesma velocidade que surgem seitas ditas ‘evangélicas’, ambas prontas para oferecer solução de problemas e antever o futuro, servindo unicamente para proveito de quem as cria, engambelando os incautos e afoitas por novidades”. O reverendo Günter Martinho Pfluck explica que à parte da “interpretação cristocêntrica tendendo ao antropocentrismo, surgem a cada dia novas seitas, que não se importam com o eterno, a vida pós-morte. O que lhes conduz o ímpeto de arrebanhamento é o aqui e o agora, chamado de ‘teologia da prosperidade’. Que nem mesmo pode ser considerado paralelo com a verdade revelada por Deus por meio dos evangelistas e profetas na Bíblia Sagrada, portanto, a ‘teologia da prosperidade’ não enaltece e nem honra a Deus, mas, tão somente os que a detêm”, diz.

O reverendo reitera que uma interpretação equivocada do princípio da Reforma de Martinho Lutero, de que a Bíblia se interpreta a si mesma, “fez com que muitos passassem a ler Bíblia de acordo com o seu tempo e pensamento. Inúmeras perguntas foram respondidas, mesmo que de maneira distorcida, abrindo espaço a interpretações distintas feitas sem o critério e por pessoas leigas influenciadas pelo sentimento. Sem formação acadêmica, estes leigos fizeram-se ouvir por suas interpretações simplistas e populares. O ser humano é propriamente um ser espiritual e, portanto, busca a transcendência de qualquer forma, mesmo que esta seja do engano”. Pfluck explica ainda que, por outro lado, “o movimento chamado tradicional, alicerçado na verdade, não contemporizou a linguagem e ritos. É preciso falar ao homem de hoje a verdade eterna de Deus, exemplo claro deixado por Jesus Cristo. Ele entrou no mundo do seu tempo e procurou trazer o homem ao caminho de Deus. Usou elementos e linguagem cognoscíveis ao público alvo: simples para com os simples e intelectual para com os intelectuais. Ainda hoje, compete ao homem o mesmo caminho com elementos que lhe são comuns. Jesus continua falando que seu reino não é deste mundo. Uma verdade divina só se mantém como tal se for sustentável pelo que Deus deixou revelado na Bíblia Sagrada. Não basta crer em algo que se tem por verdade, mas que não permanece se confrontado com a verdade eterna revelada. Quem conhecer esta verdade será liberto do caminho do erro, de acordo com o Evangelho de João 8.32. ‘Há só um caminho que conduz a Deus: Jesus Cristo, e este, crucificado (1Coríntios 2.2)’. ‘Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim’ (João 14.6)”, enfatiza reverendo Günter Martinho Pfluck, Pastor da IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil de Passo Fundo.