30.10.07

O salame


“O salame” foi o jornal impresso mais famoso de todos os tempos em Marau. E é verdade! A história é mais ou menos assim: Há muitos e muitos anos, lá por volta do início dos anos 1950, um grupo de trabalhadores do Frigorífico Borella resolveu fazer um jornal, com as notícias da cidade e também do estado. O tal Frigorífico Borella era famoso e respeitado. Uma espécie de “Perdigão Metasa” e “Sadia” dos tempos de hoje. Então os funcionários pensaram, pensaram e pensaram num nome para o primeiro jornal da cidade recém emancipada de Passo Fundo. Os trabalhadores decidiram pelo nome de “O salame”.

O jornal era mimeografado. Lembram do mimeógrafo? (Quando eu era pequena adorava ir com minha mãe na escola mimeografar as provas... saia a letra igualzinha a da minha mãe, só que azul. Parecia um carimbo gigante.) Pois “O Salame” era totalmente mimeografado. E as notícias do jornal não eram exageradamente factuais. Ao contrário, o jornal trazia notícias atuais da cidade, mas historietas envolvidas num tom de sátira e humor muito grande. Mais ou menos como o jornal O Pasquim. O que importava não era necessariamente a notícia, mas como ela era contada. E esse “como” na maioria das vezes fazia as pessoas rirem bastante. As principais piadas do jornal envolviam a política da cidade e também do Estado inteiro. Satirizavam a idéia de uma cidade que dependia do porco para produzir salame.

Fiquei encantada com a história do jornal “O salame”. Adoro jornais e histórias, então foi barbada gostar dessa. Soube da trajetória do famoso ”O Salame” através do trabalho de pesquisa da professora do curso de Publicidade e Propaganda da UPF Margarete de Césaro e da aluna Luana Pezzini. Elas estão estudando a publicidade no jornal. Aliás, as pessoas faziam propaganda de suas alfaiatarias, comércios, casas de tintas e de alimentos tudo escrito à mão. O dono chegava no jornal e deixava um bilhete. No outro dia o bilhete estava, igualzinho, no jornal.

Sempre fico fascinada com essas coisas antigas. Imagina poder ler um jornal escrito há 50 anos, ou mais que isso. Saber como eram as pessoas, as idéias, o comportamento da cidade e das famílias... perceber a evolução do mundo!... enfim; é por isso que o jornal impresso é tão sensacional. Porque só ele passa no tempo. Só ele se guarda por um período muito maior do que qualquer outro meio (é difícil encontrar uma fita de um programa de rádio ou de TV de mais de 50 anos atrás, a não ser que seja uma televisão ou uma emissora de rádio de prestígio. Caso contrário, é difícil conservar este material. Esta dificuldade o jornal não tem. Seu único e mortal problema são as traças. E mesmo assim, a luta delas para vencer o inimigo, é muito longa).

Salvem o jornal! É a história e a memória de um tempo!

23.10.07

Um meme!

"Se você vai morrer em público, tenha pronto algo memorável para dizer".

P.J. O'Rourke. Etiqueta Moderna: finas maneiras para gente grossa.


1. Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2. Abra-o na página 161 (se não tiver página 161, pegue a mais próxima);
3. Procure a 5ª frase completa;
4. Poste essa frase em seu blog;
5. Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6. Coloque sua frase nos comentários do blog (pra que todos vejam…)
7. Repasse para outros 5 blogs.

Recebi do Blog da Biba.... e passo para os seguintes blogs: Blog do Fábio Rockenbach, Blog do Paulo, Blog do Dóro, Blog da Soninha e Blog do Bruno Medina.

16.10.07

Acidentes que fazem pensar

Para meu irmão Tchesco

As últimas semanas têm marcado o Brasil pela quantidade de acidentes graves com vítimas fatais. Um dos maiores e mais tristes foi em Santa Catarina, onde um caminhão bateu de frente num ônibus cheio de passageiros. O pior veio depois: enquanto muitas pessoas ajudavam a salvar as vidas na pista, um segundo caminhão, aparentemente desgovernado e sem freios, invadiu a pista e rumou para cima das dezenas de pessoas que trabalhavam no local. Muitas delas morreram.

É nessas grandes tragédias que, na minha opinião, a gente pára pra pensar na vida. As pessoas se deparam com a vulnerabilidade do que significa “viver”. A linha é muito tênue entre o viver e o morrer.

O que acontece é que as pessoas passam todos os seus dias preocupados com a saliência dos colegas no trabalho, com o dinheiro que sempre acaba no dia 15 do mês e ainda faltam mais 15 dias para terminar o tal mês, permanecem preocupados com a casa que está empoeirada e com o sofá rasgado, com as roupas que já estão velhas e batidas, com o carro que acaba a bateria e ninguém descobre o problema; e assim vai. Aí durante à noite as pessoas sentam para relaxar em frente à TV e passam a almejar a “beleza estética e material” da vida que passa na televisão.

E, assim, a criatura se esquece de olhar para trás, ou seja, para tudo o que ela já conquistou. Esquece de pensar que tem cama pra dormir, comida pra comer, trabalho para se sustentar... E estes fundamentos são matéria-prima para uma passagem na terra de modo sossegado. No dia-a-dia as pessoas também se esquecem de que na verdade elas são corpo e mente. Espírito e matéria. E para que isto se sustente, a serenidade é extremamente importante, aliada às nossas relações de afeto. Explico.

Quando aconteceu o tal acidente em Santa Catarina, fiquei sabendo no outro dia. Liguei a televisão e quase chorei com o depoimento das pessoas. Permaneci chocada com tudo aquilo. No mesmo dia fui viajar, já com aquele aperto no coração. Só dois dias depois fiquei sabendo que um dos meus grandes e fiéis amigos quase tinha sido uma das vítimas do acidente. Só aí que, efetivamente, a minha casa caiu. Dei-me conta do quanto as pessoas são importantes na vida de outras pessoas. E quando um acontecimento destes nos afeta diretamente, damos muito mais valor à vida e aos familiares e amigos.

Meu amigo é Franscesco Silva, repórter da RBS TV de Chapecó. Ele e seu colega Evandro Troian, repórter cinematográfico, estavam indo cobrir o acidente. Foram conversando, como dois grandes amigos. Lá no local, trabalharam e ajudaram a resgatar as vítimas. Ao final de uma entrevista que Franscesco e Evandro realizavam, o Franscesco viu o caminhão desgovernado que vinha na direção deles. Ele só teve tempo de se atirar para o lado. Sentiu, há menos de um metro, o caminhão passando furiosamente. E, quando o caminhão passou por ele, teve o microfone arrancado de sua mão. O destino do amigo e colega Evandro não foi o mesmo. Ele foi arrastado pelo caminhão e morreu na hora.

É nessas horas que eu fico pensando sobre a brevidade da nossa vida. “Basta estar vivo para morrer”, como as pessoas dizem por aí. E também basta estar vivo para extraordinariamente continuar a viver, como um novo respiro que é oportunizado por Deus. Como meu amigo disse: “Agora tenho duas datas de aniversário”. E é nessas horas também que a gente se dá conta de que o mais admirável na vida não é ter grana, status ou um trabalho chique. O importante é ter com quem contar, é ter com quem conversar, é ter quem amar. O formidável pra mim, como lição de vida neste acidente, é saber que as pessoas têm um valor inestimável na vida de outras pessoas, como o Franscesco tem valor na minha vida (às vezes é preciso acontecer uma coisa triste para que as pessoas encontrem tempo para saírem de seus cotidianos corridos e pararem para pensar, para se falar e para se abraçar).

O segredo da vida é aprender que algumas coisas com as quais as pessoas se empenham têm pouco valor, ou quase nenhum quando a “brevidade da vida” se apresenta. Nessas horas o que vale mesmo é ter a consciência de que a vida física é passageira. E precisamos dar muito mais atenção às nossas atitudes enquanto seres humanos serenos do que enquanto consumidores de utensílios perecíveis da vida.

9.10.07

A história da cadelinha

Agora tenho mais um novo empreendimento (para desespero de meus pais) que se chama Beterraba Filmes e é uma produtora que trabalha com vídeo. Pois no último sábado a equipe da produtora viajou a Gramado para executar um trabalho. E, entre bilhões de cenas, uma era gravar uma porta de entrada com um senhor recepcionando as pessoas. Posicionamos tudo: tripé, câmera, mini-grua e mais o diabo a quatro. Na hora de gritar o “gravando”, vem um senhor com uma filha e uma cadelinha. Era uma cadelinha simpática, toda enfeitada, com uma “xuxa” no cabelo. Eis que o cara, do nada, prende a cadelinha na porta e entra no lugar.

Toda a equipe ficou se olhando. Não tinha como gravar com a cadelinha pendurada na porta bem faceira. Então, fomos lá, desenrolamos a guia da cadelinha e passamos para um componente da equipe segurar. Eu e mais uma outra colega estávamos de figurantes, ou seja, nosso papel seria entrar na porta enquanto a câmera gravava. Com uma cara simpática nós seríamos recebidas pelo recepcionista.

Bom, nosso colega segurando a cadelinha, gritou o novo “gravando”. Eu e minha colega “desfilaríamos” entrando na tal porta, sendo recepcionadas pelo cara. Quando estávamos quase terminando a gravação, a cadelinha se solta e sai correndo. No meio da cena entra o nosso colega a mil atrás da cadelinha. Eu e a minha colega de cena tivemos que parar de encenar para sair correndo atrás da cachorrinha. E ela queria fugir, e nós em quatro atrás dela.

Quando enfim conseguimos segurar a cadelinha, precisamos acalmá-la. Seguramos ela no colo para gravar o resto da cena. Depois, a colocamos no mesmo lugar e o recepcionista ficou conversando com ela. Mais tarde foi a minha vez de bater um papo com a cadelinha. Fui lá dizer pra ela ficar calma que a família dela, dentro de alguns minutos, estaria de volta. O bichinho começou a me lamber carinhosamente.

Quando a família da cadelinha chegou, ninguém teve coragem de contar para os donos que a cadelinha quase havia fugido porque nós a desprendemos. Ficamos lá, com cara de tacho, olhando pro chão. Já que a cadelinha não falava... a gente é que não iria contar. Fui perguntar o nome do dog e descobri que era a Lilica. E ela tinha bem cara de Lilica, enfeitada daquele jeito.... Fizemos mais uns carinhos nela, conversamos com os donos e eles foram embora. Todos ficaram se olhando com cara de remorso, até o recepcionista.

Viemos rindo até chegar em casa. Mas ao mesmo tempo em que ríamos, ficamos com pena da cadelinha, apesar de não ter acontecido nada. No meio do caminho minha irmã me liga: “Oi Robes, me diz EXATAMENTE a hora que tu vai chegar em casa”. Eu, bem inocente, disse: “Lá pela uma da madrugada”. Quando, passado da uma hora eu cheguei em casa, descobri que a minha gata Lisa havia realizado seu grande sonho: pulado para o andar abaixo no vizinho. Ela pulou num vizinho e, naquelas alturas do campeonato, foi salva por outro vizinho. Era madrugada e ela não estava em casa. De tão brava que a gata estava, minha irmã não conseguiu trazê-la pra casa, e ela estava escondida embaixo de um móvel do vizinho. Na hora caiu a ficha da ligação da minha irmã. Depois descobri que foi uma função: todo mundo querendo minimizar o fato da fuga da Lisa para eu não me apavorar. E aconteceu mais ou menos como a cadelinha: Como a Lisa não fala, eu não sei o que aconteceu, porque todo mundo me conta uma história diferente... Mas o caso é que a Lisa conheceu o mundo que ela tanto queria conhecer.

Acho que foi a vingança da cadelinha...